Esvaziada, Festa do Peão deixa questionamentos que precisam ser respondidos
Foi sintomático o esvaziamento da Festa do Peão, realizada semana passada em Oliveira. Apesar da síndrome de abstinência provocada pelos anos de pandemia e ao contrário do que parecia lógico, o Parque de Exposições recebeu um público acanhado, nem a sombra dos anos de pleno sucesso, quando conseguia-se acomodar, no recinto, pelo menos 12 mil espectadores, ávidos por divertimento e socialização.
Impulsionado pela mídia e por um mercado absurdamente voraz, que só adota o mercantilismo e o desejo tresloucado de lucro, a música apresentada nesses eventos de grande apelo popular é de uma baixeza abissal. Apela-se para o que há de mais fútil e imoral, inoculando nos ouvintes o veneno do sexo banal, do uso da traição como comportamento admissível, numa sociedade abertamente promíscua. E no bojo desse “sanduíche”, entrega-se a violência como recheio.
Se fossem capazes de entender o mal que provocam na sociedade, as prefeituras deste país não colocariam um centavo de dinheiro público nesse tipo de evento. Mas não é o que normalmente ocorre. Tivemos, nos últimos meses, exemplos descabidos de gastos municipais com pagamento de artistas de duvidosa qualidade, fato que chegou a provocar sentenças judiciais contrárias aos gestores que, irresponsavelmente, alimentam o povo com esse enganoso presente.
No caso de Oliveira, o Poder Executivo liberou R$ 150 mil, montante pago à vista, para cobrir gastos com a festa, e mais uma vez, como ocorre em todo o país, com o argumento de que é obrigação do poder público proporcionar momentos de lazer aos munícipes. A causa é verídica, mas seus modos e efeitos perversos. Ao agradar a “massa” com espetáculos de baixo nível, a Prefeitura, devidamente autorizada pela Câmara, alimenta esse mercado de sujeira e perversão, contribuindo, ainda, para fomentar a truculência, o alcoolismo e os desarranjos familiares.
Ainda bem, podemos afirmar aliviados, que a Festa do Peão, calcada nesses grotescos níveis, não tenha conseguido lotar o Parque de Exposições de Oliveira. Ao contrário, converteu-se num silencioso fracasso, havendo momentos em que os “artistas” se apresentaram para a elite econômica confortavelmente acomodada nos camarotes, enquanto a arena, onde deveria se acotovelar o povão, encontrava-se praticamente vazia. Mas ouviram-se justificativas plausíveis, entre elas a de que os cantores contratados não eram tão famosos. Ou seja: se fossem aqueles mais chegados ao grotesco, o público seria melhor.
Sim. Oliveira gastou uma fortuna com o nada. Queimou-se R$ 150 mil em três dias inaproveitáveis. Narcotizada por essa droga, a sociedade se queda, muda e conformada, certa de que valeu a pena o desembolso. Far-se-ia bem melhor, certamente, se o montante tivesse sido destinado à Copa Oliveira de Futebol Amador, brilhante e necessária iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e que ora se desenvolve na cidade, num positivo resgate do lazer sadio e construtivo do esporte.
Ocorre, no próximo mês, em Oliveira, o aguardado Festival da Primavera, este sim, um evento cultural de elevado nível e do qual tudo será aproveitável, mas que não mereceu investimentos municipais, sendo financiado por empresa particular, via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Que seja ele mais uma prova de que somente vale a pena o gasto público, quando traz, em si, o verdadeiro bem da arte autêntica, voltada à lucidez, à paz, à harmonia e ao desenvolvimento humano.
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