Um grupo de 16 jovens da Índia, produtores de leite, esteve em Oliveira nessa semana, participando de um curso de qualificação técnica voltado para melhorar a genética dos rebanhos e a produção leiteira de pequenos e médios fazendeiros daquele país. Eles tiveram aulas teóricas e realizaram visitas técnicas a algumas propriedades rurais. A cidade foi escolhida por sua estrutura para atender as necessidades dos produtores indianos, por ser referência na pecuária leiteira no estado e no país, e pela possibilidade de visitar propriedades com diferentes perfis de produção, com animais puros e mestiços.
A vinda dos indianos a Oliveira foi organizada pela Câmara de Comércio Índia Brasil e patrocinada pelo governo indiano, que custeou as despesas dos participantes do curso. O professor da Escola de Veterinária da UFMG, Eduardo Bastianetto, a convite da Câmara de Comércio, foi quem organizou o curso e fez o programa de estágio, juntamente com o também produtor rural e empresário indiano Manoj Kumar. De acordo com o professor, a proposta é mostrar aos jovens produtores, que mantêm algumas tradições responsáveis por baixa produção das vacas, que as tecnologias modernas usadas na pecuária de leite no Brasil podem tornar a pecuária indiana tão eficiente quanto a brasileira.
O professor informou que no curso foi dada ênfase a alguns pontos importantes, como a gestão sanitária dos rebanhos, a promoção da saúde dos animais, o uso de inseminação artificial em tempo fixo e também estratégias de boa gestão para minimizar o impacto das doenças na produtividade. Disse que a indicação do município de Oliveira foi feita por ele, por conhecer a cidade, onde viveu por um tempo e fez sua tese de doutorado. Bastianetto salientou que a opção foi feita também por conhecer a população, a estrutura da cidade e os proprietários que estão em seu entorno, percebendo que seria um local com a estrutura necessária para hospedar, ministrar as aulas e visitar propriedades com diferentes perfis de produção de bubalinos e bovinos.
O empresário Manoj Kumar, que visita o Brasil pela sétima vez, explicou que a presença dos indianos no país acontece por duas razões. Uma é dar a oportunidade aos produtores jovens que nunca teriam condição de deixar seu país, não fosse a ajuda do governo indiano, e a possibilidade da busca de conhecimento. Ele disse acreditar que a pecuária da Índia possui muitos pontos positivos que devem ser mantidos, como uma linhagem de seleção de raças, mas entende estar abrindo a oportunidade de levar um programa de seleção e trabalhar estas duas linhas, para que o rebanho leiteiro indiano cresça dentro da expectativa do governo, dos produtores e dos empresários.
Outro motivo manifestado por Manoj Kumar para a visita é a relação com os brasileiros. Ele disse gostar muito da maneira como as pessoas se relacionam, da receptividade, e também por entender que o Brasil vive um bom momento, principalmente na área da pecuária, sobretudo em relação à seleção de animais de raças leiteiras. Por todos esses motivos, o empresário levou a ideia da viagem e do curso para o governo indiano, mostrando que, com boas pessoas, tecnologia e bons animais existentes no Brasil, seria uma grande oportunidade de criar este programa e treinar fazendeiros jovens.
Na avaliação de Kumar, o projeto do qual os fazendeiros estão participando deve mudar a pecuária leiteira da Índia. Ele disse que vem apostando e trabalha pra isso, acreditando que em pouco tempo os indianos vão atingir os níveis de produção, de tecnologia e eficiência já conquistados pelos brasileiros. O empresário salientou que no Brasil o produtor tem conhecimento de genética, de saúde animal, vacinação, reprodução e inseminação artificial, e espera que isso sirva de inspiração para os fazendeiros de seu país.
O cronograma do programa de estágios para agricultores indianos foi composto por dez aulas teóricas sobre diversos temas, entre eles a adoção de práticas para controlar a transmissão de doenças, práticas agroecológicas, ferramentas de biotecnologia, doenças comuns em búfalos e bezerros bovinos, entre outros. As aulas foram ministradas pelos professores Cristiano Barros de Melo, da UnB Brasília; Camila de Valgas e Bastos Castro, da UFMG; Eduardo Bastianetto e Alessandro Magno Cambraia Esteves, médico veterinário com mestrado em melhoramento genético animal e proprietário de duas empresas que trabalham com genética e reprodução bovina.
Para Alessandro Esteves, a oportunidade é bastante pertinente porque a Índia é país de origem do gado zebu brasileiro, cuja importação teve início há mais de 80 anos. A vinda desses animais melhorou muito a genética do zebu leiteiro das raças indiana e paquistanesa no Brasil, porém na Índia os criadores não conseguiram fazer um melhoramento genético tão avançado, já que no país a vaca é considerada um animal sagrado, e por isso eles não conseguem desenvolver um trabalho de descarte de animais e de melhoramento genético.
Alessandro Esteves destacou que o curso abriu uma oportunidade para fazer um intercâmbio de material genético entre Brasil e Índia, pelo qual o país vai exportar alguns embriões e sêmen que são de famílias de diferentes, e a partir daí terão a oportunidade de retomar para o país uma genética melhor. O veterinário informou que recentemente foi feito um protocolo pelo governo indiano para autorizar e tornar oficial a exportação de embriões e sêmen, para que eles possam receber essa genética e melhorar o rebanho.
O produtor rural e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Oliveira, Márcio Eugênio Leite Castro, proprietário do Rancho da Paz, vê como uma oportunidade única a possibilidade de Oliveira receber um grupo de produtores rurais indianos. Ele disse ter sido uma honra a visita à sua propriedade, onde os pecuaristas asiáticos puderam conhecer o sistema de “compost barn”, que investe no bem estar do animal, garantindo a eles conforto, e com isso a produção de mais leite. Os indianos também visitaram as fazendas Bom Destino, de criação de búfalos, Curral de Minas e duas propriedades do pecuarista Bruno de Barros.
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